O arquivo da memória trans: imagens de um arquivo instituinte

Resumo

Este artigo analisa o Archivo de la Memoria Trans (AMT), um arquivo digital que abriga a coleção fotográfica e documental mais relevante produzida e gerenciada pela comunidade de travestis e transgêneros na Argentina. O objetivo do artigo é descrever a história e a organização do AMT, destacando suas origens nas lutas da própria comunidade e seu foco em imagens, e analisá-lo em termos dos problemas e potencialidades da recontextualização de documentos arquivados em um ambiente virtual, por um lado, e da produção de memórias, por outro. Nesse estudo de caso, foram aplicados os métodos qualitativos de observação, principalmente on-line, e entrevistas. Além disso, foram analisadas as cenas de consignação e domiciliação do arquivo. Os principais resultados indicam que o AMT foi constituído como parte do reconhecimento da comunidade de travestis e transexuais no contexto de suas lutas e reivindicações, cujo acervo é baseado em imagens e acesso on-line. Além disso, observa-se que ela se tornou produtora da memória coletiva da comunidade. Conclui-se que a AMT opera com base no direito ao olhar, problematizando o acesso e a circulação de imagens e memórias. Além disso, reafirma sua condição de arquivo instituidor, em oposição aos arquivos tradicionais. Por fim, a AMT interrompe cronologias políticas, apresenta diversos corpos, histórias e memórias e desafia a ordem do discurso que organiza narrativas e imagens.